segunda-feira, janeiro 18, 2010

Ele.



Valter Lobo é um tipo que nasceu no início da década de 80 numa pequena cidade no Norte de Portugal. Aí completou os seus estudos até ao nível secundário, convivendo sempre com vários grupos de amigos, conhecendo toda a gente, assim como todo a gente o conhece, característica muito própria duma cidade como Fafe. No entanto, sempre se fascinou com o que poucos conseguiam fazer, sentindo-se um pouco afastado do resto das pessoas com que convivía no que concerne aos pontos de interesse. Sempre foi muito interessado nas "coisas", sejam elas o desenho, a pintura, a escrita, a história, a arquitectura, a televisão e, mais que tudo, com a música. Ele não é nenhum génio nem nada que se pareça, mas tem algo de "especial" - diz ele. E isso fá-lo sentir diferente.


O interesse na música dá-se no momento da tomada de consciência. Da definição dos gostos. Anos 90. Invasão do pop-rock britânico. Sons das ilhas espalhados pelo mundo, pelo seu mundo. Irmãos Gallagher levavam os Oasis àquele topo. Atrás vinham os Blur, os Suede e ainda, muito levemente, os Radiohead. Era impossível ficar indiferente. Então todo ele era música em inglês, e, muito mais, quando descobre não ser pobre de voz. O próximo passo seria tocar a guitarra acústica de Noel, o que aconteceu em pouco mais de um mês depois de ter iniciado a aprendizagem daquele nobre instrumento.


De repente, o aluno que não gostou das aulas de música do 5º e 6º ano, pegava na guitarra e cantava "What's the story morning glory" do princípio ao fim, repetidamente. Eis que, de repente, tocava numa banda com mais quatro colegas de Liceu (Snoof), para depois em mais um processo genético pertencer aos Garlic. Dividiram-se as células e ali estavam os Valupa Ed. Tocava-se mal mas sempre muito alto, para plateias de cerca de trinta pessoas em pernas à chinês, em caves de um talho na zona central da cidade ou debaixo de bancadas de um campo desportivo.


Era ele que trazia as músicas e criava as letras, sempre em inglês, a língua do pop-rock.


As coisas ficaram sérias aquando do seu ingresso na universidade. A cidade de Braga trouxe-lhe coisas boas. Eis que ele mais três tipos porreiros, todos estudantes universitários começaram a tocar uns temas originais que tinha criado propositadamente para a participação num concurso da Antena 3 que era mítico, e ainda por cima, tinha lançado os Silence4, a grande sensação nacional do final da década de 90. Gravam-se 3 musicas em três horas, tudo arcaico e, uma semana depois, tinhamos sido seleccionados para tocar perante júris de onde constavam nome de músicos dos Bandemónio, o que por si só, era logo à partida intimidante. Foi o grande impulso para continuar e a maior sensação de todas.


Os Woodspirit, quarteto em acústico de Braga, tocava no B-flat, no Bla-Bla, em festivais da cidade de Braga, Fafe, e ainda para o programa da RTP internacional, Portugal a tocar. Valter era o mentor, e isso ele sabia. Fazia as coisas para ele e isso era suficiente. O reconhecimento era um pequeno acréscimo.


Depois da banda, começou uma aventura a solo ainda muito recente e embrionária, desta vez em língua portuguesa. Está a gravar sozinho canções sobre coisas, cores, estados de espírito e coisas outra vez... São canções em formato acústico, com letras cinzentas, refrões fortes, revoltados e tristes quase sempre salpicados por um bocadinho de esperança, polvilhados por um pouquinho de sol entre as nuvens.


Valter Lobo é um músico de trazer por casa - assim se autodenomina - é artista de sala de estar e de café de Inverno. Tem a voz quente e a guitarra triste. Canta as ruas e as pessoas, os actos que condena e os sonhos que tem no bolso das calças. Muitas vezes o amor. Não o amor repentino nem efémero, mas o amor entranhado nas veias, sem remédio, nunca frio e sempre confortável. Há inconformismo e aceitação do destino, há café e um copo de gelo.


Valter pede coisas à sorte e vê as pessoas na rua. Vê as pessoas na rua e lê revistas sem pagar. Ouve música na rua sem que a haja. Faz culto de personalidades. Compra coisas engraçadas e banais, simplesmente por comprar.


Ele não é nenhum génio nem nada que se pareça, mas tem algo de "especial" - diz ele.



1 comentário:

Leonel Castro disse...

Special. Oh, so special!...

A special student, a special mind, a special humour...