segunda-feira, maio 25, 2009

O desordenado.



A conselho do Valter, decidi publicar esta opinião relativamente ao episódio de Sexta-Feira à noite entre Manuela Moura Guedes e António Marinho Pinto.

"António Marinho Pinto está para o PS de Sócrates como o estão Vitalino Canas, Augusto Santos Silva ou Pedro Silva Pereira. É um indefectível. Tal como Sócrates, Marinho Pinto vê em tudo o que o prejudica uma urdidura de travestis do trabalho informativo. Tal como Sócrates, o Bastonário dos Advogados vê insultos nos factos com que é confrontado. E reage em disparatado ultraje e descontrolo, indigno de quem tem funções públicas. Marinho Pinto na TVI foi tão sectário como Vitalino Canas ou Santos Silva e conseguiu o prodígio de ser mais grosseiro numa entrevista do que Sócrates foi na RTP e Pedro Silva Pereira na SIC. É obra. Marinho Pinto não tem atenuantes. Não trabalhou no Ministério do Ambiente de Sócrates e, que se saiba, não faz parte do seu núcleo duro. É pois de supor que não esteja vinculado ao voto de obediência cega que tem levado os mais próximos de Sócrates à defesa do indefensável, à justificação do injustificável e a encontrar razão no irracional. Não tendo atenuantes, Marinho Pinto tem agravantes. O Estado de direito delegou na Ordem dos Advogados importantes competências reguladoras de um exercício fundamental para a sociedade. O Bastonário tem que as exercer garantindo uma série de valores que lhe foram confiados pelos seus pares. O comportamento público do Bastonário sugere que ele está a cumprir uma bizarra agenda pessoal com um registo de regularidade na defesa apaixonada de José Sócrates e do PS. O que provavelmente provocou em Marinho Pinto o seu lamentável paroxismo esbracejante em directo foi a dura comparação entre as suas denúncias sobre crimes de advogados e os denunciantes do Freeport. Se a denúncia de irregularidades na administração de bens públicos é um dever, a atoarda não concretizada é indigna. O que o Bastonário da Ordem dos Advogados disse sobre o envolvimento dos seus pares nos crimes dos seus constituintes é o equivalente aos desabafos ébrios tipo: "são todos uns ladrões" ou "carrada de gatunos". Elaborações interessantes e de bom-tom, se proferidas meio deitado num balcão de mármore entre torresmos e copos de três. Presumo que a Ordem dos Advogados não seja isso. Nem sirva de câmara de eco às teorias esotéricas do Bastonário de que a Casa Pia foi uma Cabala para decapitar o PS ou que o Freeport é uma urdidura politico-judicial-jornalistica. Se num caso, um asilo do Estado com crianças abusadas fala por si, no outro, um mega centro comercial paredes-meias com a Rede Natura, tem uma sonoridade tão estridente como o grito de flamingos desalojados. A imagem que deu na TVI foi de um homem vítima de si próprio, dos seus excessos, do seu voluntarismo, das suas inseguranças e das suas incompetências. Marinho Pinto tentou mostrar que era o carrasco do mensageiro que tão más notícias tem trazido a José Sócrates. Fê-lo vociferando uma caterva de insultos como se tivesse a procuração bastante passada pelo Primeiro Ministro para desencorajar e punir este jornalismo de pesquisa e denúncia que tantas e embaraçosas vezes tem andado à frente do inquérito judicial. E a verdade é que sem o jornalismo da TVI não havia "caso Freeport" e acabar com Manuela Moura Guedes não o vai fazer desaparecer."


Mário Crespo

Opinião

Jornal de Notícias.


A reter ...


2 comentários:

Me, Myself and I disse...

Um texto nada nada tendencioso...
Parece que o Sr. Mário Crespo não viu a mesma entrevista que eu e tantos outros. Nada de novo...
Marinho Pinto pode ser acusado de muitas coisas. Mas não me parece que "moço de fretes de Sócrates" seja uma acusação legítima. Marinho Pinto peca brutalmente pela forma explosiva e desbargada que utiliza para expor o seu ponto de vista mas daí a afirmar que o MArinho Pinto mais uma vez defendeu acerca das origens do Caso Freeport (já que MArinho Pinto nunca se referiu ao mérito da causa nem da investigação, referindo-se apenas à sua morosidade e ausência preocupante de outros resultado que não políticos) é uma teoria esotérica é desonesto, para não dizer insultuoso à inteligência de quem já leu o despacho tornado público no próprio site da Ordem dos Advogados, em que se dava como provada a existência a tal "urdidura política-judicial-jornalística". Nem parece verosímil que o Bastonário visasse "desencorajar e punir este jornalismo de pesquisa e denúncia que tantas e embaraçosas vezes em andado à frente do inquérito judical". Quando a pesquisa e o jornalismo, para além da qualidade duvidosa, violam regras éticas e deontológicas elementares, será que o choque e a polémica que causam são suficientes para justificarem a sua insusceptibilidade de crítica, contraditório directo e punição perante erros grosseiros?
Eu vi um Bastonário que perdeu completamente a compustura perante um insulto de uma "jornalista". Não o devia ter feito.
Vi um Bastonário que recusa ser destituído por uma Assembleia Geral que legalmente não tem poderes para o fazer. Nem sequer legalmente seria viável realizar-se. Basta dar uma vista de olhos ao Estatuto da Ordem. Para além disso, que Bastonário no seu perfeito juízo concordaria convocar uma Assembleia Geral com vista a destituí-lo?
Toda esta situação se torna cada vez mais inacreditável e risível...para não dizer vergonhosa. Porque não há ninguém capaz de assumir uma postura responsável e arrumar tamanha desordem.

Me, Myself and I disse...

Vi Marinho Pinto fiel a si próprio, consciente das agruras a que, num Estado em que o silêncio se torna cada vez mais ensurdecedor, está sujeito quem se recusa a calar o que sabe e todos sabem. A liberdade de expressão é um direito constitucionalmente previsto. Concorde-se ou não com o seu estilo, foi eleito democraticamente por larga maioria.
A sua conduta tem sido polémica. Fala como um cidadão. Serve-se da posição priveligiada que ocupa para expôr o que julga ser prioritário. Tem cometido erros como propôr à A.R. a alteração do Estatuto da Ordem dos Advogados sem antes consultar a classe que vê a sua actividade profissional por este regulada. MAs daí a tais actos serem ilegais e puníveis com ma desstituição por "braço no ar" vai uma longa distância...Os tempos do PREC já vão longe!
A conduta de quem a ele se opõe não tem sido menos irresponsável e reprovável, sacrificando por um objectivo político a estabilidade financeira e económica de toda a Ordem dos Advogados.
Vi uma jornalista que mantendo a sua pose não foi capaz de fazer uma "entrevista" isenta, pertinente. Não raras vezes denotou uma terrivelmente má preparação de fundo acerca dos temas que abordava (confundiu assembleia geral com congresso, chamou dirigentes da Ordem dos Advogados aos Presidentes dos Conselhos Distritais, não apresentou sequer o abaixo assinado - que existe - para convocação da A. G., não compreendeu porque é que a convocacção da A. G. era ilegal...). Demonstrou total ausência de educação e respeito por quem entrevistou.
Algo que passou e me deixou a pensar com este confronto a que tantos assistiram em directo foi o facto de nem sempre com o poder vir a responsabilidade, seja esse poder o chamado "4º poder" ou o poder de influenciar o futuro de toda uma classe com grandes responsabilidades sociais como é a da advocacia.
Mas foi bom sentir que numa sociedade de Direito como a nossa, não há ninguém imune ao contraditório nem à critica aberta, sejam Bastonários, sejam jornalistas. Preocupante foi ver essa liberdade que o distante Abril de 74 nos trouxe ser maltratada por quem teria a responsabilidade e o dever de não o fazer, pela influência que detêm na nossa sociedade.
Tenho dito. :)