domingo, julho 27, 2008

Prostituição silenciosa

"Há tempos li num jornal uma notícia aparentemente anódina. Segundo o que vinha escrito, um determinado futebolista português a jogar num clube estrangeiro – poderia ser Ronaldo, ou Nani
ou Deco, ou Ricardo Carvalho, ou outro qualquer jogador famoso, com a única condição de, na altura, ser solteiro – jantara na noite anterior com uma conhecida modelo portuguesa, que passara depois a noite nesse país e regressara na manhã seguinte a Portugal.
Naturalmente, o jornalista perguntara ao agente do jogador se a dita modelo era namorada do futebolista em causa.

Mas o homem fora peremptório: «Namorada? Nem pensar!».
E adiantara uma informação também aparentemente banal: era vulgar os futebolistas estrangeiros daquele clube (e doutros) receberem a visita de modelos ou jovens actrizes mais ou menos conhecidas nos seus países, não tendo isso qualquer significado.
Ou seja, não tendo a ver com namoros ou sequer com amizades.

Na altura, passei à frente. Mas um tempo depois pus-me a pensar em quem pagaria às raparigas as despesas da viagem, que não deveriam ser tão poucas como isso: deslocação, estadia (certamente num bom hotel), refeições, etc. Sendo convidadas dos jogadores, seriam naturalmente estes a pagar as contas – nem outra coisa faria sentido. Mas pagariam em nome de quê? E para quê? Para poderem dizer que jantaram com fulana ou sicrana?

Nalguns casos, até pode ser. Mas não em todos. Talvez nem na maioria. Sejamos práticos: o que será normal acontecer entre um jovem futebolista solteiro e uma jovem rapariga atraente, a quem ele paga todas as despesas para ir ao seu encontro? E que relação poderá estabelecer-se entre uma jovem que chega ao fim da tarde a um país para jantar com um futebolista e parte na manhã seguinte?

Não custa muito a deduzir.
E isto desenterrou-me memórias de relatos a que na altura não dei grande atenção mas que assim ganhavam veracidade e sentido.

Lembrei-me de uma entrevista da modelo Evelina Pereira em que esta falava da sua experiência no estrangeiro e na depravação no mundo da moda internacional, explicando que as jovens modelos tinham de passar por várias camas se queriam singrar na carreira. E adiantava que, por não querer seguir este caminho, se vira muitas vezes preterida ou ultrapassada.

Mais recentemente, haviam-me falado de uma nova forma de prostituição em Portugal: uma prostituição de grande luxo, praticada por actrizes, modelos, apresentadoras de TV, que ofereciam os seus favores a clientes famosos e muito endinheirados.

Um jogador de futebol a jogar no estrangeiro diria ao seu agente: «Esta noite quero dormir com fulana» (uma figura pública que ele apenas conhecia da televisão). O agente falava com a rapariga, ela disponibilizava-se ou não, metia-se no avião (o avião de carreira ou um aparelho fretado pelo jogador, caso este não dispusesse de avião particular), e o resto não vale a pena explicar.

As passerelles dos desfiles de moda, os palcos dos programas de TV, as festas do jet-set serviriam assim (também) para apresentar raparigas aos famosos, que as escolheriam como quem consulta um catálogo.

DIRÁ o leitor mais exigente ser abusivo, neste caso, falar de prostituição.
– A rapariga em causa pode ter engraçado com o rapaz e deitar-se com ele por gosto e não por dinheiro. Até para poder dizer às amigas: ‘Eu dormi com fulano’.
Isso é inteiramente verdade. Só que não invalida o que ficou dito.

Recapitulemos:
O rapaz escolhe uma rapariga (que em princípio não conhece pessoalmente) apenas pelos seus atributos físicos, apontando para ela o dedo, como se faz a uma prostituta.
A rapariga submete-se, aceitando dormir com uma pessoa que não conhece mas que lhe paga uma viagem: um jantar e uma dormida num luxuoso hotel, bilhetes de avião, possivelmente extravagâncias.

E, como o agente do jogador explicou, a relação resume-se normalmente a um contacto único.
ESTA prostituição silenciosa, a que nunca vi referência e que me foi revelada através de uma inocente notícia de jornal, é um triste sinal dos tempos.
Os jogadores de futebol, por nadarem em dinheiro, como o Tio Patinhas, acham que podem ter tudo – inclusive aceder a mulheres que os seus compatriotas só cobiçam no ecrã.
E certas raparigas que o acaso atirou para o carrossel da fama, em lugar de procurarem aperfeiçoar as suas qualidades, ganhando densidade e traquejo na profissão, deixam-se tentar pelo dinheiro e pela fama e aceitam vender o corpo com o maior à-vontade.

Ora nem para as jovens estrelas dos relvados é benéfico terem tantas facilidades, nem às jovens vedetas dos palcos faz bem despirem-se tão facilmente do pudor.
A TÉ há alguns anos, as mulheres dos futebolistas eram vistas na sua maioria como ‘louras burras’ que não sabiam dizer duas palavras seguidas e se casavam mais por interesse do que por amor.
Esse tempo passou há muito.

Os jogadores hoje também são em certo sentido modelos (quando não o são realmente, como Miguel Veloso ou Figo) e cuidam da imagem como estrelas do palco, alinhando os dentes, fazendo cortes artísticos no cabelo, vestindo-se a rigor.

E, tendo-se tornado modelos, também se tornaram mais exigentes relativamente ao sexo feminino, querendo o melhor, não se contentando com cabeleireiras nem caixeiras de lojas, querendo mulheres desejadas pelos outros homens – para sentirem que, também aqui, estão acima do comum dos mortais.

Os tempos da mulher-objecto tão criticada pelas feministas estão aí em todo o seu esplendor.
As prostitutas já não são só as que ganham com o sexo o pão da boca para elas e para os filhos. As prostitutas nem precisariam de ser prostitutas, porque têm outras actividades em que ganham bem.

A prostituição silenciosa mostra desgraçadamente que o dinheiro compra tudo. Mesmo aqueles que não precisam nada dele."
José António Saraiva
Revista TABU, nº98, 26 Julho, pág 64 e 65.




Eu só quero aplaudir de pé e durante muitas horas este senhor de nome José António Saraiva. Tudo aquilo que foi escrito por ele, já eu o defendo com unhas e dentes há bastante tempo!!
Por vezes, quando opinava acerca deste assunto, as pessoas que me rodeavam olhavam para mim com um ar de desconfiança total ...

"Que exagerada Teresinha", diziam ...

Este texto e tudo aquilo que conseguírem retirar dele, é dedicado a vocês ...

E nunca se esqueçam:
"As prostitutas já não são só as que ganham com o sexo o pão da boca para elas e para os filhos.
As prostitutas nem precisariam de ser prostitutas, porque têm outras actividades em que ganham bem."


Já para não entrar naquele campo das universitárias que todos os meses angariam dinheiro para uma bolsa Tous ou umas botas Prada ...

(...)

Boa noite!

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu nunca discordei de ti,linda!
Sempre o achei também. E nós sérias, sabemos onde essas mulheres andam e o que querem.

Já elas tentaram retirar o que sempre foi nosso...
Mas o que é nosso não será de mais ninguém!!

Nunca mais me esqueço daquela conversa na Foz, contigo e com a Li, há uns 2,3 anos ...
Lembraste?

:)

Beijinho grande.
Temos que marcar almoço.

*Caty*

Anónimo disse...

Excelente artigo do jornal Sol.
Concordo com tudo o que o Sr. Jornalista José Saraiva disse.
Hoje em dia e infelizmente, as mulheres e esses homens são assim mesmo.

Parabéns pela escolha do tema.

Já agora, votei no vosso blog. :P

João